Artigo publicado na revista TugaMuc 32

Há cerca de 6 meses a viver em Munique, confesso que há ainda algumas coisas a que não me habituei. O facto de só haver nomes nas campainhas das portas, por exemplo, faz-me imensa confusão. Mas poder comer um “Brezn” fresquinho em qualquer lado, acaba por amenizar.

Brincadeiras à parte, a verdade é que são muitas as diferenças culturais entre portugueses e alemães, a começar pela mais óbvia de todas – a situação económica. Na Alemanha existe uma condição financeira muito mais estável do que em Portugal e isso vê-se nas mais pequenas coisas. Quando vamos a um parque infantil às 4 da tarde em Munique, num dia de semana, é muito provável que esteja cheio, mesmo com frio. Em Portugal isto não acontece, nem na primavera. E se não acontece, não é porque os portugueses não gostam de levar os filhos ao parque, é porque não podem. Em Portugal as pessoas não se podem dar ao luxo de trabalhar 4 horas ou não trabalhar de todo. Em Portugal as pessoas têm de trabalhar e pronto. Como há poucos empregos, as pessoas têm de os agarrar com unhas e dentes. Esta é na minha opinião, a maior diferença cultural que eu encontrei até agora. As pessoas na Alemanha olham para o seu emprego como uma parte da sua vida, trabalham para viver, como costumam dizer. No entanto, em Portugal, uma grande parte das pessoas vive para trabalhar. É engraçado, como é que um povo que muitas vezes tem sido chamado de “preguiçoso”, se transformou num país de escravos do próprio trabalho.

Aqui em Munique as pessoas são muito mais descontraídas em relação ao trabalho. A maior parte das lojas estão fechadas ao domingo e isso serve para tirar uma certa pressão de cima das pessoas. É como se houvesse um dia para descontrair, para fazer “reset” nas preocupações e para desfrutar das coisas boas da vida. Em Portugal o domingo passou a ser um dia igual ao outros todos. Eu confesso que às vezes ainda sinto falta de ter tudo aberto ao domingo, porque há algumas vantagens. Mas eu encontro também várias outras vantagens em fazer esta pausa na responsabilidade e na produtividade. É sem dúvida muito vantajoso, principalmente no que diz respeito à saúde mental das populações.

Eu trabalho na área do life coaching e lido diariamente com pessoas que, apesar de terem muita coisa nas suas vidas, não são felizes. São pessoas que têm dinheiro, estatuto social, mas não se sentem realizadas. De uma forma geral, os portugueses não se dão ao luxo de carregar no “stand-by” por um bocadinho e desfrutar do momento, parece que não é permitido parar. São crenças que temos enquanto sociedade, mas que aos poucos, devagarinho eu penso que vamos conseguindo modificar. E aqui nós, emigrantes portugueses, temos também um papel importante porque vemos as coisas do lado de fora. A distância é importante, dá-nos outra perspetiva, conseguimos analisar as coisas de uma forma mais isenta. É mais fácil para uma pessoa perceber o que está mal numa determinada sociedade, se não estiver inserido nela. E o contrário também se aplica, afinal de contas, é muito mais fácil encontrar coisas boas de Portugal, se vivermos longe. Quem de nós nunca sentiu falta de um pastel de nata e de uma bica a meio da manhã? Ou mesmo de trocar dois dedos de conversa, com a senhora da padaria? Será isto a saudade? Aquele sentimento tão difícil de explicar aos outros… Talvez seja um pouco nostálgico até, mas há em Portugal, naquele quadradinho de terra à beira mar plantado, qualquer coisa de único, que nos faz sempre querer voltar.

Rute Vidigal

“A coach Pioneira em Portugal na área da espiritualidade”

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