Há uns dias uma amiga mostrou-me a sua casa nova. Ela estava muito feliz, porque além de ter uma casa maior, tinha também um espaço exterior muito agradável. No entanto, ela acabou por me dizer que ia sentir falta da vista da casa antiga. A sua antiga casa, embora fosse mais pequena e sem espaço exterior, tinha uma vista incrível. Ao mudar para a casa nova, a minha amiga ganhou espaço, mas perdeu a vista. Mas o que eu achei mais engraçado nesta conversa é que no final ela rematou a conversa dizendo: “Não há bela, sem senão.” E é a mais pura verdade.

Tudo na vida é dual. Aqui em baixo, no planeta Terra existem sempre dois lados de uma coisa: existe a Luz e a sombra, a paz e a guerra, o claro e o escuro e por aí fora…

Qualquer assunto que tenhamos em mãos terá sempre aspetos positivos e aspetos negativos, mas nem sempre nós conseguimos aceitar isto com a mesma leveza que esta minha amiga aceitou.

Quantas vezes nós exigimos a perfeição dos outros, mesmo sabendo que ela não existe? Quantas vezes queremos que o nosso vizinho seja perfeito? Quantas vezes queremos que a nossa mãe seja perfeita? Quantas vezes queremos que o nosso parceiro (ou parceira) seja perfeito?

Nos atendimentos que faço, muitas pessoas me falam das dificuldades que têm nas suas relações do dia-a-dia: seja uma chatice com uma amiga, com o namorado ou com senhorio… Na maioria das vezes, as pessoas descrevem a situação e no fim dizem qualquer coisa como: eu compreendo que a pessoa estivesse chateada, mas não deveria ter dito ou feito aquilo. E depois começam a descrever aquilo que o outro deveria ter feito, na sua própria opinião.

Todos nós já descrevemos aquilo que os outros deveriam ter feito numa determinada situação. É um ato inconsciente. Na prática, aquilo que acontece é que aquela atitude, seja ela qual for, acabou por nos ferir. Então o nosso ego engendra um plano daquilo que deveria ter acontecido para nós não sofrermos. Mas a verdade é que já aconteceu, a dor já lá está, embora a pessoa não o queria admitir.

Não seria mais fácil se nós simplesmente disséssemos a verdade, tipo: “olha, não gostei do que disseste, isso magoou-me”? E seguíssemos com a vida em frente, aceitando que ninguém é perfeito? Afinal de contas, talvez nós próprios já tenhamos também magoado alguém, alguma vez, com as nossas palavras ou atitudes.

Como a minha amiga disse: “não há bela, sem senão”.  Às vezes temos pessoas nas nossas vidas que embora sejam amigas maravilhosas, maridos esplendidos, mães extremosas, às vezes dizem ou fazem coisas que nos magoam. As nossas relações seriam bem mais harmoniosas, se conseguíssemos simplesmente transmitir o nosso desagrado, sem partirmos para o ataque. Não é fácil esta atitude, é na verdade bem difícil, mas vale a pena 😉


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